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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Muro das Lamentações.


   (…) Demasiadas vezes, deitados na cama a meio da noite, entramos em pânico com mágoas que nos parecem diabolicamente únicas para nós. Essas ilusões não são possíveis no “Muro das Lamentações”[1]. (…) O muro demarca um local onde a angústia que trazemos dentro de nós pode ser revelada pelo que é verdadeiramente: uma simples gota de mágoa num oceano de sofrimento. Serve para nos tranquilizar quanto à ubiquidade do desastre e corrige definitivamente as suposições sorridentes feitas, involuntariamente, pela cultura contemporânea.
   Entre os anúncios de ganga e de computadores colocados bem alto nas ruas das nossas cidades, deveríamos colocar versões eletrónicas de Muros de Lamentações que transmitiriam anonimamente as nossas angústias interiores e nos dariam desse modo uma noção mais clara do que é estar vivo. Esses muros seriam particularmente consoladores se pudessem dar-nos um vislumbre do que em Jerusalém está reservado apenas para os olhos de Deus: os infortúnios particulares dos outros, os pormenores dos corações partidos, das ambições desfeitas, dos fiascos sexuais dos impasses ciumentos e das falências ruinosas que ficam normalmente escondidos atrás dos nossos rostos impassivos. Esses muros dar-nos-iam provas tranquilizadoras de que os outros também se preocupam com as suas coisas absurdas, contando os poucos verões que lhes restam, choranedo por alguém que os deixou há uma década e dinamitando as suas hipóteses de sucesso através da idiotice e da impaciência. Não haveria propostas de resolução nestes locais, nenhum fim para o sofrimento, apenas um reconhecimento público – e, no entanto, infinitamente reconfortante - de que nenhum de nós está sozinho com os seus problemas e lamentações.
(Alain de Botton, Bíblia para ateus, pgs.189/90)



1 Onde os crentes judeus colocam pedidos/orações/desabafos, conscientes da fragilidade e imperfeição humanas